Personagens do bem, criados pela inteligência artificial

Personagens do bem, criados pela inteligência artificial

Pesquisadores encorajam o uso de personagens gerados por inteligência artificial para fins positivos   

 

Autora da notícia original: Becky Ham

Tradução livre e não-oficial: Heitor Augusto Colli Trebien, redator da Velip

 

Este texto foi baseado e inspirado na notícia de Becky Ham Characters for good, created by artificial intelligence publicado no MIT News em 16 de dezembro de 2021. A partir da leitura da matéria, realizamos uma tradução sobre o texto, considerando também o artigo científico: AI-generated characters for supporting personalized learning and well-being, publicado em 15 de dezembro de 2021 no Nature Machine Intelligence pelos pesquisadores – Pat Pataranutaporn, Valdemar Danry, Joanne Leong, Parinya Punpongsanon, Dan Novy, Pattie Maes e Misha Sra.

 

Fonte: Site do Storyset – Virtual Reality por Amico

 

À medida que se torna mais fácil criar personagens digitais hiper-realistas usando inteligência artificial, mais as discussões giram em torno do potencial perigoso e enganador dos conteúdos das deepfakes. Mas, ao mesmo tempo, a tecnologia também pode ser usada para propósitos positivos – como reviver Albert Einstein para dar uma aula de física, falar com o seu eu mais velho sobre mudança de carreira ou anonimizar as pessoas enquanto preserva a comunicação facial. 

Para encorajar as possibilidades positivas dessa tecnologia, os pesquisadores da MIT Media Lab (Laboratória de Mídia do Instituto de Tecnologia do Massachusetts) e seus colaboradores da Universidade da Califórnia de Santa Bárbara e a Universidade de Osaka compilaram um canal de geração de personagens de código aberto e de fácil uso que combina modelos de IA para gestos faciais, voz e movimento que podem ser usados para criar uma variedade de saídas de áudios e vídeos. 

O canal também marca a saída obtida com uma marca d’água legível pelas pessoas para distinguí-la do conteúdo do vídeo autêntico e para mostrar que foi criada artificialmente – uma adição que ajuda a prevenir o uso malicioso. 

Ao fazer esse canal de fácil acesso, os pesquisadores esperam inspirar professores, estudantes e profissionais da saúde a explorar como essas ferramentas podem ajudá-los em seus respectivos campos de trabalho. Se mais estudantes, educadores, profissionais de saúde e terapeutas tiverem a chance de construir e usar esses personagens, os resultados podem melhorar a saúde, o bem-estar e contribuir para uma educação personalizada, como os pesquisadores descreveram na Nature Machine Intelligence

Para saber mais, assista ao vídeo do canal do YouTube MIT Media Lab: Personagens gerados por IA para oferecer aprendizagem personalizada e bem-estar.

 

 

Será, de fato, um mundo estranho quando as IA’s e os humanos começarem a partilhar identidades. Este artigo [AI-generated characters for supporting personalized learning and well-being] faz um trabalho incrível do pensamento de liderança, mapeando o espaço do que é possível com os personagens gerados pela IA em domínios que vão desde a educação à saúde e até as relações íntimas, enquanto oferece um quadro de referência tangível de como evitar desafios éticos em torno da privacidade e da deturpação de dados”, disse Jeremy Bailenson, diretor fundador do Laboratório de Interação Virtual Humana de Stanford (Stanford Virtual Human Interaction Lab), que não participou do estudo. 

Embora o mundo conheça principalmente essa tecnologia devido às deep fakes, “nós vemos seu potencial como uma ferramenta para a expressão da criatividade”, disse o primeiro autor do artigo Pat Pataranutaporn, estudante de doutorado que participou do grupo de pesquisa de tecnologia Interfaces Fluidas da professora de tecnologia midiática Pattie Maes

Os outros autores do artigo incluem Maes; o estudante de mestrado Valdemar Danry, integrante do Interfaces Fluidas; a estudante de doutorado Joanne Leong; Dan Novy, cientista de investigação do Laboratório de Mídia; o professor assistente Parinya Punpongsanon da Universidade de Osaka; e a professora assistente Misha Sra da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. 

 

Verdades profundas e aprendizagens profundas 

 

Redes Adversárias Generativas ou GANs, uma combinação de duas redes neurais que competem entre si, tornaram mais fácil criar imagens fotorealísticas, clonagem de voz e faces animadas. Pataranutaporn e Danry primeiro exploraram essas possibilidades em um projeto chamado Machinoia, onde eles geraram múltiplas representações alternativas deles mesmos – como crianças, como idosos, como mulher – para terem um diálogo consigo mesmos sobre escolhas da vida de diferentes perspectivas. A inusitada experiência das deepfakes o fez ter consciência da sua “jornada como pessoa”, ele afirmou. “Foi uma verdade profunda – de descobrir algo sobre você mesmo que nunca tinha pensado antes, usando seus próprios dados em você”.

Os pesquisadores afirmam que o autoconhecimento é uma das aplicações positivas de personagens gerados por IA. Experimentos mostram, por exemplo, que esses personagens podem deixar os estudantes mais entusiasmados sobre a aprendizagem e melhorar a performance cognitiva de resolução de tarefas. A tecnologia oferece um caminho para a instrução ser “personalizada de acordo com o seu interesse, seus ídolos, seu contexto e pode se modificar ao longo do tempo”, explica Pataranutaporn, como um complemento à educação tradicional.  

Para exemplificar, os pesquisadores do MIT usaram o canal deles para criar uma versão sintética de Johann Sebastian Bach, que teve uma conversa com o renomado violoncelista Yo Yo Ma na aula de interfaces musicais do Professor Tod Machover no Laboratório de Mídia – para a alegria tanto dos estudantes como de Ma. 

Outras aplicações podem incluir: personagens que ajudem a fazer terapia, para aliviar a crescente escassez de profissionais de saúde mental e atingir aproximadamente 44% de americanos com problemas de saúde mental que nunca receberam aconselhamento, como também criar conteúdo gerado por IA que oferece terapia de exposição a pessoas com ansiedade social. Em casos de uso similar, a tecnologia pode ser usada para anonimizar rostos em vídeos enquanto preserva as expressões faciais e as emoções, o que pode ser útil em sessões onde a pessoa queira compartilhar informações pessoais e sensíveis, tais como experiências de saúde, traumas ou para denunciantes e testemunhas oculares. 

No entanto, existem também mais casos de uso artístico e lúdico. Nas aulas de outono “Experimentos em Deepfakes” dirigida por Maes e o pesquisador associado Roy Shilkrot, estudantes usaram a tecnologia para animar as figuras de uma pintura histórica chinesa e para criar um “simulador de término”, entre outros projetos.

 

Desafios éticos e legais

 

Muitas das aplicações dos personagens gerados por IA levantam questões éticas e legais que devem ser discutidas à medida que a tecnologia evolui, como os pesquisadores mencionaram no artigo. Por exemplo, como vamos decidir quem tem o direito de recriar digitalmente uma figura histórica? Quem é legalmente confiável se o clone de IA digital de uma pessoa famosa instigar comportamentos nocivos online? E há algum perigo caso a gente prefira interagir com personagens sintéticos ao invés de humanos? 

“Um de nossos objetivos com essa pesquisa é aumentar a consciência sobre o que é possível, realizar perguntas e começar conversas públicas sobre como essa tecnologia pode ser usada eticamente para benefício social. Quais ações técnicas, legais, políticas e educacionais podemos tomar para promover casos de uso positivo reduzindo ao mesmo tempo a possibilidade de danos?”, declara Maes. 

Ao compartilhar essa tecnologia amplamente, ao mesmo tempo que a rotula claramente como sintetizada, Pataranutaporn afirma: “esperamos estimular mais casos de usos positivos e criativos, ao mesmo tempo que educamos as pessoas sobre os potenciais danos e benefícios dessa tecnologia”. 

 

*** A tradução livre e não-oficial foi realizada considerando os Termos de Uso de Política de Republicação para Web e Impressão do MIT

 

REFERÊNCIAS

 

BECK, Ham. Characters for good, created by artificial intelligence: Researchers encourage positive use cases of AI-generated characters for education and well-being. MIT News, 16 December 2021. Available in: <https://news.mit.edu/2021/ai-generated-characters-for-good-1216>. Acess: 03 Jan. 2022. 

PATARANUTAPORN, P.; DANRY, V.; LEONG, J. et al. AI-generated characters for supporting personalized learning and well-being. Nat Mach Intell 3, 1013–1022, 2021. Available In: <https://doi.org/10.1038/s42256-021-00417-9>. Acess: 03 Jan. 2022.